quinta-feira, 29 de março de 2018

Entenda por que a Síria vive nova onda de violência extrema após expulsão do Estado Islâmico


Os conflitos na região, que datam de 2011, não acabaram com a perda de poder do Estado Islâmico. Tensões regionais e disputas globais são acirradas, provocando milhares de mortes.


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Os conflitos na Síria não são recentes: desde março de 2011, a população do país vive em meio à guerra. As motivações são complexas e difíceis de se definir, já que forças internacionais tomaram partido e interesses regionais se conflituam, acirrando as tensões. Forças leais ao presidente Bashar Al-Assad, rebeldes, extremistas muçulmanos e potências estrangeiras fazem parte de uma situação complicada de se resolver.
Desde 2016, o Estado Islâmico (EI) tem perdido território e poder na Síria devido a diversas ações do governo de Assad e seus aliados. Com isso, países e grupos envolvidos, como Turquia, Irã, Rússia, EUA e Israel, xiitas, sunitas, curdos, árabes seculares e radicais islâmicos querem consolidar seus territórios e assegurar interesses. O resultado desse contexto são verdadeiros massacres, como o que tem acontecido em Ghouta Oriental, nas proximidades de Damasco, a capital. Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), 76% das residências de Ghouta Oriental foram devastadas, com mais de 500 mortos em cinco dias consecutivos de bombardeios. 

A região vem sendo atacada pelo governo sírio e seus aliados, entre eles, a Rússia e o Irã. O objetivo é a retirada das forças rebeldes que dominam Ghouta desde 2012. A população também sofre com a fome: o pão lá é 22 vezes mais caro que a média do resto do país, mais uma arma da Síria para enfraquecer rebeldes. No último sábado, a ONU aprovou uma resolução de um cessar-fogo de 30 dias a região, a qual foi rapidamente descumprida.

Contexto Histórico da Guerra

“A situação na Síria é muito mais complexa do que se pode imaginar”, diz a professora e coordenadora de atividades do curso de Direito da Unichristus, Silvana Melo. Para entender como o conflito chegou até onde está, é preciso saber de suas origens, em 2011. Nesse ano, muitos sírios se queixavam de um alto nível de desemprego, corrupção em larga escala, falta de liberdade política e repressão pelo governo de Bashar al-Assad, que havia sucedido seu pai, Hafez, em 2000. O governo foi extremamente repressivo com os protestos, prendendo e torturando manifestantes. “Foi uma situação de protestos que virou uma guerra civil”, explica Silvana. 
 

O conflito, que começou com ares políticos, deu espaço para diversas questões, como a religião. O Daesh, também intitulado como Estado Islâmico, nome pelo qual ficou mais conhecido, é um grupo religioso extremista que ganhou destaque dentro do embate por atos de terrorismo. Foi considerado um dos principais inimigos e responsável pela extensão da guerra.
O grupo realizou ataques terroristas em todo o mundo. Em 2015, o EI dominou metade do território da Síria após ocupar a cidade de Palmira, onde enfrentou e massacrou uma tribo de rebeldes. A derrubada do grupo foi prioridade dos EUA no governo de Donald Trump, que, para isso, se aliou até mesmo à Síria, antes sua adversária na luta. Estima-se que hoje o Daesh controle apenas 3% do território sírio.

Outros conflitos

Além dos bombardeios em Ghouta Oriental, outros conflitos acontecem dentro do território sírio por outras razões. “São várias guerras dentro de uma guerra”, resume a também professora do Grupo de Estudos em Direito e Assuntos Internacionais (Gedai). Nas fronteiras com a Turquia, um conflito incessante entre o exército turco e curdos que lutaram contra o EI também recebe intervenções internacionais.

A luta se dá porque os curdos, um grupo étnico do Oriente Médio, querem fundar um estado independente, o Curdistão. A Turquia, por outro lado, quer impedir que isso aconteça para reafirmar seu território. Os curdos pediram ajuda da Síria nesse embate, que cederam os YPG (Unidades de Proteção Popular, na tradução da sigla). Na semana passada, o exército sírio conseguiu tomar Afrin, no noroeste da Síria. A guerra, no entanto, segue.
A posição dos EUA é instável durante a guerra. Após ter se aliado à Síria para derrotar o EI, os norte-americanos se voltaram contra o país após suspeitas de que os sírios estariam utilizando armas químicas, um apoio mal visto no contexto mundial de terrorismo, principalmente para um país do Conselho de Segurança. A demonstração da virada de lado não foi nem um pouco sutil: no ano passado, a potência bombardeou exércitos sírios em Deir az-Zour, algo que aumentou as tensões já acirradas.

Dificuldades de resolução

Uma controvérsia que permeia a guerra é a presença das potências internacionais Rússia e Estados Unidos, historicamente adversários. Uma pacificação na região por meio da ONU é difícil, já que esses se encontram em lados opostos da luta e ambos possuem poder de veto no Conselho de Segurança.
  
Segundo estimativas do Centro Sírio de Pesquisas Políticas (SCPR, na sigla em inglês), 470 mil pessoas já morreram desde o início da guerra civil síria, em 2011. Hoje, mais de 13,1 milhões de sírios precisam de ajuda humanitária. Para Silvana Melo, é importante que as pessoas conheçam diferenças conceituais para que refugiados não sejam estigmatizados. “Islã é diferente de terrorismo”, explica.
A guerra na Síria é longa e não tem perspectiva de paz no momento, na opinião da professora. “Enquanto houver influências regionais e internacionais, a guerra tem tendência a perdurar, e quem sofre mais são os sírios”, lamenta. “As partes deveriam abrir diálogo, mas é só guerra por cima de guerra. Para haver paz, todos os países têm que querer paz”, completa.

Fonte: O Povo Online