Encilhamento foi
o nome pelo qual ficou conhecida a política econômica adotada durante o
governo provisório do marechal Deodoro da Fonseca - o primeiro presidente da
República. A mudança de regime político - da Monarquia à República - ocorreu
num momento de graves desajustes econômicos. Um dos efeitos da crise foi a
falta de dinheiro circulante no país.
Para resolver o problema, o governo pôs em prática uma política de
incentivo à emissão de papel moeda. Historicamente associado ao nome do
ministro da Fazenda Rui Barbosa, o programa buscava contornar o problema da
falta de dinheiro para pagar os trabalhadores assalariados - cujo número havia
aumentado sensivelmente com o fim da escravidão e a imigração de mão-de-obra
livre - e viabilizar o processo de industrialização nacional.
Por isso mesmo, acabou recebendo o nome de encilhamento. Encilhar é o
ato de colocar a cilha (cinta) na cavalgadura para prender a sela ou a carga.
No hipismo, trata-se do preparativo para entrar com o cavalo na pista.
Analogamente, era como se o Brasil se preparasse para um novo
momento: a industrialização. E um dos preparativos principais naquela
conjuntura era facilitar o crédito aos investidores.
Por outro lado,
o nome encilhamento também remetia à agitação e à jogatina que dominavam os
jóqueis durante as corridas. O mesmo aconteceu com a política econômica do
governo Deodoro da Fonseca, cujos efeitos criaram um clima de grande confusão e
desordem no mercado de investimentos da época.
Medidas e
efeitos do encilhamento
Os últimos anos
do Império e os primeiros da República representaram um período extremamente
profícuo em debates a respeito da importância da industrialização para o
Brasil. Em alguns casos, a bandeira republicana esteve associada à proposta
modernizante pela via da indústria, e não mais da agricultura - caminho
tradicional até então. Foi nesse contexto que se inseriu a política do
encilhamento.
Sem abandonar o
setor primário, do qual a economia brasileira e o próprio governo eram
absolutamente dependentes, o programa dividiu o país em três grandes regiões
bancárias autorizadas a emitir dinheiro, cuja garantia (lastro) eram títulos da
dívida pública. Pressionado, o governo terminou credenciando outros bancos a
emitirem papel-moeda, criando um volume de dinheiro circulante muito além do
que o país necessitava.
Efeitos da
política econômica
O efeito
imediato dessa medida foi a desvalorização do mil reis, a moeda da época,
seguida por um surto inflacionário, provocado pela injeção excessiva de
dinheiro na economia. A desvalorização da moeda brasileira, por sua vez, levou
ao fechamento de muitas empresas e à falência de tantos outros investidores.
A facilidade de
créditos sem a devida fiscalização permitiu que os recursos fossem investidos
em outro fim que não aquele para o qual haviam sido aprovados. No mercado de
ações, a intensa especulação marcou o período do encilhamento. Muitas
empresas-fantasma, que após obterem créditos fechavam suas portas, continuaram
negociando suas ações na bolsa de valores - em alguns casos, até mesmo a preço
crescente.
Embora seja
quase sempre ligado à figura de Rui Barbosa (que não foi o único ministro da
Fazenda de Deodoro) e à crise econômica que marcou o início da República, o
encilhamento incentivou, ainda que de maneira limitada, a industrialização
brasileira. Se de um lado, ele materializou o espírito liberal dos primeiros
anos da República, de outro mostrou a debilidade do país para intervir na
economia.
Ao mesmo tempo,
o fracasso dessa política econômica ensejou o fortalecimento dos setores
ligados ao setor primário e às posições defendidas pelos grandes fazendeiros,
descontentes com o apoio a outro setor que não o primário.
Fonte: UOL Vestibular
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