A pesquisa, publicada nesta segunda-feira, 12, na revista PNAS, mostra que esse tipo de transferência não alivia a situação das bacias hidrográficas que recebem a água, mas pode exacerbar o estresse hídrico das bacias doadoras.
De acordo com o autor principal do estudo, Dabo Guan, da Universidade de East Anglia (Reino Unido), o objetivo do estudo era descobrir se a redistribuição de água poderia ser capaz de mitigar o estresse hídrico na China. Os cientistas consideraram tanto a transferência de "água física" - por meio do remanejamento de água entre diferentes bacias - como os fluxos de "água virtual", isto é, a água contida nos produtos comercializados entre as várias regiões.
Para fazer o mapeamento, os pesquisadores levaram em conta dados sobre os projetos de transferência de água entre bacias, além de dados sobre o comércio entre províncias, desde 2007, com projeções até 2030. "O atual programa chinês de transferência de água entre bacias, em vez de resolver o problema, está agravando o estresse hídrico nas regiões mais pobres da China, sem conseguir mitigar a escassez nas regiões importadoras de água", disse Guan.
Segundo Guan, com a análise da trajetória histórica, das políticas públicas, dos fatores socioeconômicos e técnicos, foi possível concluir que a China precisará investir com urgência em programas de uso eficiente da água. Caso contrário, a situação continuará a se deteriorar até comprometer a escalada da economia chinesa. "A china precisa mudar seu foco para a gestão da demanda de água, em vez de seguir com a atual abordagem focada na gestão da oferta, já que o país está enfrentando pressões gigantescas sobre suas fontes de água", afirmou Guan.
Os autores afirmam que a única saída para o país é melhorar a eficiência no uso dos recursos hídricos. Mas os ganhos com a eficiência podem ser comprometidos por um aumento da demanda causado pelo crescimento econômico contínuo. Além disso, a qualidade da água é cada vez pior. Guan, que é professor de Economia das Mudanças Climáticas, publicou, em parceria com Martin Tillotson, da Universidade de Leeds (Reino Unido), um outro estudo em 2014, mostrando que 75% dos lagos e rios chineses - além de 50% de suas reservas hídricas subterrâneas - estão contaminadas, como consequência do consumo urbano, da exportação de bens e serviços e de investimentos em infraestrutura.
De acordo com Tillotson, mesmo levando-se em conta os futuros ganhos de eficiência no consumo de água para uso agrícola e industrial, a transferência de água entre bacias na China provavelmente será insuficiente para compensar o aumento da demanda, por causa dos efeitos do crescimento da população e da economia. "O maior foco precisa ser colocado na regulação, ou no incentivo da redução do consumo", afirmou Tillotson.
Fonte: Estadão
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