A GM (General Motors) anunciou ontem (27/04) um novo plano como tentativa para evitar a concordata. Propôs a troca de seus títulos de dívida por ações da empresa e se aprovado, o governo dos EUA, seu maior credor, terá o controle acionário da montadora. Além de outras medidas, estabelecendo prazos até 2010 para amenizar a situação como: reduzir o número de fábricas de 47 para 34 e fechar mais três até 2012; Cortar 21 mil vagas, passando dos atuais 61 mil para 40 mil nos EUA; custo de trabalho menor; fim da Pontiac, ficando apenas com as marcas Chevrolet, Cadilac, Buick e GMC; reduzir o número de concessionárias, de 6.246 para 3.605; redução da dívida e intenção de investimentos.
Só com o anúncio dessas medidas, as ações da empresa já subiram e o mercado ficou mais calmo. Sempre me questiono sobre esta crise. Não será mais uma vez um golpe do capitalismo? Tudo bem, temos que tomar cuidado, não achar que é apenas uma marolinha. Mas, fico sempre com o pé atrás. Todas essas demissões alegando a crise, para mim, não passa de desculpa para demitir quem não se adequou às novas determinações das empresas, ou mesmo, para não deixar de obter o lucro estabelecido para o crescimento anual.
Engraçado que nós, simples mortais, passamos anos apertados, economizando aqui e ali, para sobreviver, para conseguir construir algo. No entanto, as fábricas, as empresas, o capitalismo não pode passar por apertos por alguns meses e claro, a primeira medida é a demissão em massa. Ontem a empresa que trabalhava, americana, por sinal, fez um belo corte no quadro de funcionários. Mas, desta vez, tiveram a decência de não culpar a crise econômica atual, alegaram reestruturação nos departamentos. Contudo, sabemos que isso não ameniza a dor nem de quem foi demitido e nem de quem continua na empresa, que acumula o serviço dos que não estão mais lá e cada vez a estrutura encolhe, fica mais enxuta ainda, porém, é melhor do que dar esta desculpa esfarrapada da crise.
Minha desconfiança vêm de fatos de todos esses anos de capitalismo, da quebra da bolsa de Nova York em 1929 e por aí afora. E segundo o filme "Roger e Eu" de Michael Moore, relatando os acontecimentos da cidade de Flint, nos meados nos anos 80, desta mesma GM que comento agora, fico mais ainda com o pé atrás.
Aí vai uma dica, assista este documentário ou leia meu relatório que fiz para a faculdade em 2006, que segue abaixo, e analisem se tudo não é muito suspeito.
Filme..: Roger e eu
Gênero: Documentário
Diretor: Michael Moore
USA/1989
O Filme relata a saída da GM da cidade de Flint, no estado de Michigan, EUA. A Cidade sempre girou em torno do parque industrial da General Motors e por várias gerações, toda população trabalhava na montadora. Até os meados dos anos 80 havia prosperidade na cidade e todos se encontravam numa situação segura e confortável, até o dia que decidiram fechar 11 fábricas e 30 mil pessoas ficaram desempregadas.
Esta estratégia já era conseqüência do conjunto de fenômenos que ocorreu a partir dos anos 50 e que teve seu auge a partir dos anos 80 e tem como objetivo proporcionar uma maior liberalização do capital para que este busque melhores taxas de lucro, o que chamamos de Globalização.
O Capitalista quer a liberdade para ir para onde quiser e a General Motors, fechou estas fábricas em Flint e instalou o novo complexo industrial na cidade do México. O Presidente da GM, Roger Smith, alegou que se esta atitude não fosse tomada, iriam a falência. E isso não passou de mera desculpa para visar mais lucro com as novas tecnologias, que substitui a força de trabalho e também porque a mão de obra qualificada e as despesas fixas são mais baratas no México.
A produção flexível, desenvolvida pela Toyota nos anos 60, considerada a 3ª Revolução Industrial, acabou sendo modelo para as indústrias, onde a “Automação de Sistema” e as “Células de Produção” substituíram a Produção em Série do Fordismo, onde se visava a quantidade, produção de acordo com a capacidade total, trabalho não qualificado, grandes estoques e produção verticalizadas.
No Toyotismo, os principais pontos são:
Ênfase na Qualidade;
Produção de Acordo com a Demanda;
Mão de Obra Qualificada (funcionários polivalentes);
Just in Time (em cima da hora) sem estoques; e
Idéia de Empresa Família.
Com esta mudança, do Fordismo para o Toyotismo, de um lado crescia a lucratividade das empresas, diminuía os conflitos internacionais e riquezas desnecessárias, de outro lado, o trabalhador fica prejudicado, pois começam:
O Desemprego Estrutural (mais de 5 anos sem emprego);
A Precarização do Trabalho (terceirização); e
O Enfraquecimento da Organização Sindical.
Foi o que aconteceu em Flint, a GM, com esta atitude, simplesmente desestruturou toda a cidade, levando a uma verdadeira calamidade. Como a população era voltada para a mão de obra da montadora, há muitos e muitos anos, ficaram desorientados, não tinham experiência em outras atividades de trabalho.
Sem alternativas e sem emprego, a população de Flint era despejada de suas casas, os aluguéis eram altos e sem emprego era impossível o cidadão arcar com essas despesas. A violência aumentou com a recessão e a cidade passou a ter a maior taxa de criminalidade dos EUA. A sua elite ainda os chamavam de preguiçosos e fingiam que nada estava acontecendo, suas corriqueiras e fúteis vidas continuavam como se a cidade não passasse pelo caos que estava passando.
O Sindicado se enfraqueceu e se tornou amigo do patrão. A População tentou a economia informal e outros ramos de trabalho, como o Fast Food. Muitos, acostumados ao ritmo de trabalho das montadoras, não conseguiam se adaptar às novas funções. Alguns doavam sangue em troca de dinheiro, outros foram treinados para serem Guardas Civis e acabavam prendendo seus ex-companheiros de trabalho que acabaram na criminalidade.
Sem muitas alternativas, a população foi deixando a cidade e abandonando suas casas para procurarem empregos em outras cidades.O governo decidiu investir no Turismo para aquecer a economia da cidade, hotéis luxuosos foram construídos, o “Auto Word”, um investimento de 100 milhões de dólares, que era uma miniatura do parque industrial da GM, inicialmente até fez algum sucesso, mas como a cidade não havia muito a oferecer, isso também, após algum tempo, fracassou.
Roger Smith a frente da General Motor, como todo capitalista, não estava interessado em honrar a cidade Natal, tudo é voltado para o aumento do lucro e para ele pouco interessava o que estivesse acontecendo com a população de Flint.
Michael Moore, diretor deste documentário, foi um obstinado, como nasceu em Flint, queria a todo custo conseguir um depoimento do Sr. Todo Poderoso Roger Smith, após três anos de muitas tentativas, em uma entrevista numa véspera de Natal, finalmente conseguiu chegar perto de Roger, além de não conseguir leva-lo até a cidade, ainda escutou o seguinte: “Não temos culpa pelos acontecimentos em Flint”.
Concluindo, a mensagem do filme nos mostra que o importante não é o bem estar das pessoas e uma sociedade mais justa, mas sim, o lucro a qualquer preço, e como diz Michael Moore no final do filme “os ricos estão cada vez mais ricos, os pobres cada vez mais pobres e o final do século XX era realmente o começo de uma nova era”.
Fonte: resenha feita pela autora Nana
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